Rosa Maria Pitsch*
A Academia Real das Ciências da Suécia anunciou nesta sexta-feira a escolha da jovem paquistanesa Malala Yousafzai para o Prêmio Nobel da Paz deste ano.
Premiada por sua luta contra o desaparecimento de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação, ela divide o prêmio com o indiano Kailash Satyarthi, que faz campanhas contra o trabalho infantil e a exploração de crianças.
Muitos críticos dizem que a paz nem sempre foi a verdadeira motivação para a entrega da distinção e seus opositores atribuíram ao invento de Alfred Nobel a culpa por milhões de mortes. Destacar a paz foi a sua motivação e ele curiosamente ficou rico por inventar explosivos.
O cenário mundial está cheio de guerras e revoltas que podem chegar a duas dezenas: Israel e Palestina; Ucrânia e Rússia; a Revolução Síria e o avanço do Estado Islâmico estão entre as principais. Um estudo do Institute for Economics and Peace’s revela que, de 162 países, apenas 11 não estão em guerra no mundo hoje.
No entanto, uma guerra que deveria estar em andamento há muito tempo e não vinha ocorrendo na proporção esperada é a do combate da epidemia do ebola.
Em seu atual surto na África Ocidental, é o mais letal visto até agora e já está sendo comparado ao surgimento da AIDS. Já matou quase quatro mil pessoas no continente até o momento, ultrapassando as fronteiras continentais, com suspeita de haver chegado até ao Brasil.
Por ter surgido em uma região extremamente pobre do globo, suas consequências iniciais foram negligenciadas e agora, além de milhares de mortos e crianças órfãs, a epidemia já causa fortes impactos econômicos em Guiné, Libéria e Serra Leoa.
O Ocidente posa como árbitro da humanidade, intervindo em crises pontuais, muitas vezes por ambições geopolíticas. As justificativas vão desde a defesa dos direitos humanos e da democracia até ao do desenvolvimento, mas falham em atender a necessidades urgentes e extremas na prevenção de epidemias das mesmas populações.
A luta para vencer o Ebola deve ultrapassar barreiras econômicas e científicas e não ver suas vítimas esquecidas e apagadas da história como ocorreu com Mahatma Gandhi.
Apesar de reconhecido mundialmente como um símbolo de paz, o líder do movimento de independência da Índia, nunca recebeu o Nobel da Paz. Malala e Kailash certamente ambicionam a mesma consideração recebida para seus continentes, por parte das grandes potências.
*Jornalista