Lícia Peres *
A agressão à jovem egípcia que foi brutalmente espancada por soldados e deixada seminua no chão simboliza a imagem de um país onde as mulheres têm sido excluídas do processo de transição e relegadas a uma condição inferior. Creio que a discriminação, qualquer que seja, é porta aberta para a injustiça. Os protestos contra a discriminação de gênero vêm mobilizando a população feminina, integrantes da marcha na praça Tahrir , centro da Primavera Árabe.
A presença das mulheres e seu ativismo despertaram a fúria dos governantes expressa na brutal repressão.
O processo eleitoral está em curso. A imagem que ocupa os vídeos de todo o mundo, além de afrontar o mundo civilizado, “desonra o próprio governo” , como bem afirmou Hilary Clinton, secretária de Estado norte-americana. Ao tentar desqualificar os protestos, o Conselho Supremo das Forças Armadas que comanda o Egito rejeitou as críticas, classificando-as como “ingerência estrangeira”.
Esse fato que atinge a todos nós – mulheres e homens – representa uma violação aos direitos humanos e requer a união de todos os organismos internacionais no sentido de responsabilizar os agressores.
Lembro que o Tribunal Penal Internacional, cuja criação foi ratificada por dezenas de países, nasceu com a finalidade de julgar crimes de genocídio, de guerra e aqueles contra a humanidade, buscando garantir justiça nos casos em que esta não possa ser obtida nos países onde as violações ocorreram .
A brutalidade do espancamento e humilhação sofridos pela jovem egípcia e testemunhada, graças à internet, por milhões de pessoas , representa, a meu ver crime contra a humanidade. Há procedimentos atrozes que são a negação da própria condição humana, aqueles que aviltam e humilham o outro, retirando-lhes a dignidade a que todos os seres humanos têm direito.
Milhares de mulheres saíram às ruas em protesto contra a covardia. Nós também temos o dever de nos manifestar exigindo a punição dos culpados. A solidariedade internacional tem peso. A história vem confirmando isso.
Precisamos evoluir, ainda mais, na afirmação da ideia de cidadania internacional e de uma cultura de paz.
É uma frase batida, mas verdadeira: “O Silêncio é cúmplice da violência.
* socióloga