Berenice Sica Lamas*
Ingredientes: uma dose de licor Baileys irish cream, 1/4 de dose de grapa, cubinhos de gelo, uma bola de sorvete de baunilha, creme ou chocolate, canela em pó, folhas de hortelã, açúcar, creme, gotas de baunilha, chocolate raspado, Bolero de Ravel, livros de poesia, filmes.
Modo de fazer: colocar os ingredientes – licor, grapa, sorvete, gelo e baunilha – na coqueteleira devagar, no intervalo entre um e outro leia um poema de amor do Afonso Romano Sant’ ana, um do Cesare Pavese, outro do Eugenio Montale, deguste Hilda Hilst e Adélia Prado e seus fervores, vá dissolvendo as dores e conflitos por antecipação. Aceite o prazer e a bem aventurança que se aproximam. Misturar até adquirir tessitura homogênea.
Neste momento ponha o bolero de Ravel a tocar, as notas deverão se misturar aos demais ingredientes e posteriormente inundar a boca. Seu corpo ondulará ao natural em movimentos dançarinos. Junto ao gelo moído serão trituradas as amarguras e aflições.
Verta em uma taça alta – gelada previamente – e alterne a mistura com camadas de creme. Use um mixing glass se precisar e a colher bailarina própria de bares. Sugerem-se mais palavras, melopéias diretas na saliva. Concilie a dança com o preparo do néctar macio.
Decore com folha de hortelã e açúcar gelado na beira e raspas de chocolate, polvilhe com canela. Estale beijos e afine a sensibilidade. Se quiser, enfeite ainda com fios de mel e fragmentos de chocolatinho-menta, o pratinho em que repousar a taça. Confunda tudo com rimas, ritmos, sonoridades, aliterações, metáforas, sínteses. Os versos livres e a música deverão pairar em torno do drinque que o prazer bebe. O condensado da poesia se entrelaça com o denso do paladar. Baileys perfuma a amêndoas e avelãs, creme e café.
Lambuze o beiço, sinta no corpo. Gire o filme “A mulher do lado” ou “Blade Runner”. O paladar, os olhos e a mente agradecem.
Obs. – substitua os poetas, a música e os filmes a seu gosto.
- Psicóloga e Escritora