Renata Batista | Do Rio
09.09.2014. A crescente força da questão religiosa e de debates como o da união civil de homossexuais na política reflete o conservadorismo dos brasileiros. A avaliação é do Ipsos Public Affairs, instituto de pesquisa com atuação em 86 países. O Ipsos acaba de fechar um estudo de comportamento em 20 países, mas as respostas dos brasileiros foram, inicialmente, desconsideradas pelos analistas estrangeiros que consolidaram os dados globais para estudos específicos sobre a questão feminina e sobre as causas homossexuais.
“Eles acharam que tinha alguma coisa errada pois as respostas não eram consistentes com a imagem que tinham do país”, resume o diretor do Ipsos no Brasil, Dorival Mata Machado, que na época estava chegando na empresa e precisou avaliar os resultados ponto a ponto para reverter a situação.
Para Machado, as respostas também estão distantes do próprio imaginário do brasileiro, que não percebe esse viés.
“O conservadorismo moral do brasileiro está mais próximo de países percebidos internamente como mais fechados ou com forte influência religiosa, como China e Índia, do que de vizinhos da América Latina, como a Argentina”, avalia, e faz o contraponto com a imagem externa do país. “Lá fora, existe uma percepção do Brasil não tão conservador. Eles percebem que o país está crescendo, mudando, e não têm ideia de que é uma sociedade calcada em uma posição conservadora, principalmente na base da sociedade. Não conseguem entender a distância entre o Brasil novo e as posições conservadoras”.
Questionados se as mulheres devem ter os mesmos direitos e o mesmo poder dos homens, brasileiros e turcos – país de maioria muçulmana e, por isso, percebido como mais conservador – apresentaram o mesmo resultado: 80% dos entrevistados concordaram com a afirmação, o que coloca os dois países entre os quatro com menos aderência à ideia de igualdade de gênero. E um percentual maior de brasileiros do que de turcos concorda com a afirmação de que o papel das mulheres na sociedade é ser boas mães e esposas – 38% contra 36%, na Turquia.
A posição dos brasileiros em relação aos homossexuais também é bem próxima a dos turcos. Lá, 62% concordam que gays e lésbicas têm o direito de viver suas vidas como quiserem. Aqui, são 61%. Na hora de se posicionar claramente de forma contrária, porém, o brasileiro é mais cuidadoso. Apenas 28% discordam da afirmação, contra 34% na Turquia.
“Não é que estejamos ficando mais conservadores. O problema é que existe um conjunto de questões que são tabus no Brasil. Aqui, ninguém pode se declarar sem religião, por exemplo”, afirma Machado, lembrando que os candidatos se apressam a se posicionar como religiosos. Entre os entrevistados dos 20 países, os brasileiros foram os que deram mais importância para religião: 79%.
Para o diretor do Ipsos, o Brasil pode estar em transição porque o país está em um momento de olhar o mundo e ser olhado pelo mundo. Ele acha mais provável, porém, que as respostas dos brasileiros estejam relacionadas à rejeição a posições muito radicais. “O brasileiro só aceita posições radicais nas questões de violência e defesa da família. Ele é totalmente contra o aborto, mas a favor da pena de morte e da redução da maioridade penal”, resume.
Fonte: Valor Econômico