Rebecca Tavares*
27.03.2012 Todo ano, o Banco Mundial publica um Relatório Sobre o Desenvolvimento Mundial. Pela primeira vez, em 2012 o foco desse relatório é igualdade de gênero e desenvolvimento. Nele, o Banco reconhece uma realidade com a qual a ONU Mulheres já vem trabalhando há tempos: igualdade de gênero é premissa fundamental e ferramenta de desenvolvimento. Nas últimas décadas, as mulheres avançaram muito na escolaridade, ultrapassando os homens em alguns países; sua expectativa de vida cresceu e sua participação na força de trabalho remunerada explodiu. Atualmente, as mulheres representam 40% da força de trabalho global. No Brasil, sua participação cresceu 22% nos últimos trinta anos, em grande parte devido à sua melhor educação.
O Banco Mundial ressalta que, no mundo todo, o desenvolvimento auxilia na promoção da igualdade de gênero, mas não é suficiente para obter igualdade. O aumento da escolaridade das mulheres se relaciona com crescimento econômico, e a partir das demandas do mercado de trabalho, as mulheres são estimuladas a aumentar seu nível educacional. Como resultado, passam a receber salários maiores. Mas, apesar dos avanços, a maioria das mulheres segue confinada em setores periféricos da economia e em posições mal remuneradas. E continuam a receber salários menores em comparação com homens na mesma posição.
No mundo todo, 35 milhões de meninas ainda estão impedidas de freqüentar a escola; as mulheres recebem oitenta centavos por dólar pago aos homens, em média; e meio bilhão de mulheres sofre violência por parte de homens do seu círculo social. Por outro lado, enquanto no mundo todo as mulheres estão mais escolarizadas e participam mais na força de trabalho remunerada, elas ainda estão fora dos espaços de decisão. Já sabemos que quando há mais mulheres nesses lugares, as políticas de inclusão e crescimento são direcionadas mais equitativamente para as mulheres, especialmente chefes de família. De acordo com o Banco Mundial, menos de 20% dos parlamentares no mundo são mulheres, não havendo distinção entre países desenvolvidos ou em desenvolvimento. No Brasil, somente 11,8% dos parlamentares são mulheres. Essas desigualdades não são apenas injustas, mas também encerram um dado econômico. Ao não investir na igualdade para as mulheres, os estados estão desperdiçando os talentos de metade da população e perdendo a chance de aumentar o crescimento econômico.
Talvez a contribuição mais importante desse Relatório seja a confirmação, com dados e evidências, daquilo que os economistas propuseram há algum tempo: que a igualdade de gênero não é apenas uma questão de justiça social, mas tem também efeitos econômicos positivos. Com base em dados de vários países, a conclusão é que a simples eliminação de barreiras discriminatórias contra as mulheres em certos setores e ocupações pode levar, por si só, a um aumento de 25% na produtividade, sem necessidade de qualquer novo investimento.
A ONU Mulheres trabalha pela eliminação das desigualdades de gênero como essencial para o desenvolvimento. No Brasil, estamos realizando um estudo que ajudará a estimar o impacto da produção feminina no crescimento do PIB brasileiro. Esperamos, com isto, ampliar o espaço para discussão sobre o efeito multiplicador que a igualdade de gênero produz em termos de promoção do desenvolvimento em que todos ganham, o país gera mais riqueza e essa riqueza é melhor distribuída, levando a um desenvolvimento inclusivo e sustentável.
O Banco Mundial reconhece um padrão de mão dupla nos efeitos da igualdade de gênero sobre o desenvolvimento, no qual a igualdade de gênero contribui para o desenvolvimento econômico e vice-versa. O ritmo extraordinariamente rápido das mudanças nas normas sociais está associado com os retornos econômicos para as mulheres da escolarização e da sua entrada na força de trabalho. Ainda que se confirme uma correlação positiva, fatores causais precisam ser mais bem compreendidos. Uma teoria indica que, com o desenvolvimento, as instituições se fortalecem, o que, por sua vez, promove o acesso das mulheres e meninas aos direitos e oportunidades. No entanto, apesar das várias análises multifatoriais disponíveis, ainda são necessários dados mais abrangentes.
Na ONU Mulheres, já constatamos, e o relatório do Banco Mundial o confirma, que o desenvolvimento econômico não é suficiente para se chegar à igualdade de gênero plena. Esta requer diretrizes específicas, e é por isto que muitos governos estabeleceram políticas de incentivo à candidatura de mulheres aos cargos executivos e à destinação de benefícios para a redução da pobreza diretamente às mulheres, pois está provado que assim eles são diretamente repassados às suas famílias. Os programas governamentais são mais eficazes quando visam às mulheres, o que prova que a igualdade não é apenas uma questão de justiça, mas também uma política de desenvolvimento inteligente.
*Diretora, ONU Mulheres, Brasil e Cone Sul
Fonte: ONU Mulheres Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres