Marco Antonio Fetter*
Nem o amor, e muito menos o casamento, surgiram assim sem mais nem menos. Foi criado, estruturado, se fez para atender algumas necessidades, ou melhor, o sentimento do amor e a instituição do casamento nasceram para atender as nossas melhores necessidades. Da alma e da vida. De uma vida com alma.
… é de se perguntar, então: onde e como começou o casamento? Por mais que alguns queiram acreditar, a caricatura do homem da caverna arrastando sua noiva pelos cabelos para a sua caverna não foi…com toda a certeza, o modo pelo qual o casamento começou.
Outros entusiastas teóricos românticos podem especular que o homem começou em bandos de laços frouxos partilhando sexo, companheiras e filhos, juntamente com sua comida. Mas, embora tal opinião de vida comunal promíscua seja intrigante, os antropólogos não encontram provas para sustentar essas idéias propostas por antigos antropólogos e filósofos.
Mesmo os nossos parentes mais próximos entre os primatas não vivem em bandos promíscuos – podem ser mais ecléticos em sua vida sexual do que gostamos de pensar que somos, mas eles também seguem certas normas de relacionamento.
Simplesmente não sabemos quais foram às primeiras normas do homem no casamento embora se especule que o “vínculo do par” foi à unidade fundamental do homem em suas fases iniciais de desenvolvimento humano.
Mas isso é apenas uma teoria, e, como as pesquisas da história humana e antropológica nos mostram, o modo de vinculação do homem no casamento tem sido espantosamente diverso, variando desde a monogamia até a poligamia. Entretanto, naquelas sociedades em que se preferem outras formas de casamento, a monogamia também existe, é uma norma universal em todas as sociedades do mundo.
Esse tipo de união da mulher e do homem pode não ser sexualmente exclusivo ou durar a vida inteira, mas sua presença em toda parte confirma o fato de que o relacionamento de uma pessoa com outra é uma norma humana básica.
O relacionamento de uma pessoa com outra satisfaz as necessidades profundamente humanas do indivíduo, as necessidades desenvolvimentistas e psicológicas da intimidade, confiança, afeição, associação e validação da experiência. Não precisa ser permanente, exclusivo ou dependente, mas o relacionamento de duas pessoas – de uma com a outra – permite uma aproximação e intimidade psicológica que nenhuma outra espécie de relacionamento oferece.
Na teoria, o casamento não deve ser necessário para haver um relacionamento de uma pessoa com outra. Na verdade, nem é preciso haver casamento para se legitimar um filho. Num mundo de verdadeira compreensão humana, o filho deve ser legítimo porque nasceu. Todos os requisitos para cuidá-lo – cuidado maternal, garantia de interdependência e cooperação com os outros, podem ser atendidos sem o casamento legal.
O amor e o companheirismo existentes entre um casal não necessitam de documento nenhum para fazê-los atuar ou assegurar sua existência. Ou precisam?
O compromisso com outra pessoa não pode ser legislado ou registrado. O “verdadeiro compromisso vem de dentro, não de fora de um relacionamento”. A assinatura de um contrato não pode garantir a ninguém o compromisso de outra pessoa no sentido emocional; porque a ausência de tal contrato deve significar falta de compromisso? Não deve, é claro. Mas, infelizmente, às vezes significa, e bastantes vezes para permitir que aqueles que acreditam no compromisso da companheira (ou companheiro) pensem duas vezes. Não precisaríamos do contrato de casamento, na realidade, se todos nós tivéssemos alcançado uma etapa de desenvolvimento humano que assegurasse responsabilidade e confiança mútuas entre todas as pessoas.
*Doutor em Sociologia da Família – www.rebraf.com.br