Levantamento da Polícia Militar de São Paulo mostra que, em janeiro, 5,6% das motoristas que foram paradas pela fiscalização haviam bebido antes de pegar o volante. Com isso o índice de mulheres reprovadas no teste do bafômetro, durante as blitze da lei seca, na capital paulista, cresceu vertiginosamente.
Em outubro, esse percentual passou para 38,6%, quase quatro em cada dez fiscalizadas. Os dados mostram que a evolução de embriagadas na direção é praticamente constante mês a mês. Em contrapartida, o número total de detectados pelos aparelhos que medem a dosagem de álcool no sangue está em declino – passou de 11% para 4%.
A alta feminina nos flagrantes das operações é impulsionada por dois fatores principais. O primeiro – e responsável direto, acreditam os especialistas – é a mudança recente na forma de fiscalizar a lei seca. Até o primeiro semestre de 2009, a PM organizava as operações de fiscalização de forma aleatória. Nem todos os carros passavam pelos locais das blitze eram abordados e só faziam o bafômetro quem tivesse sinais de embriaguez.
Há cinco meses, porém a estratégia mudou e as mulheres, portanto, deixaram de ser “invisíveis” para os responsáveis pela fiscalização.
O segundo fator para o aumento de embriagadas identificadas é que as mulheres estão consumindo mais álcool, o que também aumenta o comportamento de risco.
Agora, a PM aborda todos os automóveis que trafegam pela via, independente do sexo de quem está no volante. “A maioria dos abordados ainda é homem, mas as mulheres cada vez mais são paradas”, afirmou o capitão Sérgio Marques, responsável pelas blitze.
Quando o fator é saúde, as pesquisas mais recentes mostram maior prevalência do hábito de beber entre as mulheres e aí está outro motivo para o crescimento delas nos números de alcoolizados ao volante. Um levantamento que endossa a invasão feminina nos índices de alcoolismo, feito em instituições públicas de tratamento de São Paulo, aponta que em dois anos cresceu em 80% o número das que buscam consultas por vícios em bebida alcoólica. “Elas estão mais presentes nos bares, nos consultórios clínicos e também nas pesquisas sobre o tema”, confirma o presidente do Centro de Informações Sobre o Álcool (Cisa) e professor da Faculdade de Medicina da USP, Arthur Guerra. “Todas as idades aparecem como foco do problema. As mais novas querem ficar alteradas para ter diversão a qualquer custo, com um prejuízo de autoimagem altíssimo. E as de meia idade buscam o álcool por alguma insatisfação pessoal, solidão e problemas pessoais”.
Dessa forma, as mulheres bebem mais socialmente e também aparecem mais nas estatísticas dos problemas associados ao álcool. Levantamento feito em instituições públicas de tratamento de São Paulo aponta que cresceu em 28% o índice de mulheres das classes econômicas A e B (que ganham acima de 15 salários-mínimos por mês) em tratamento por vício em bebida alcoólica.
Não é a única estatística sobre essa tendência. Entre as garotas com menos de 18 anos, o mesmo fenômeno é atestado. Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, ligado à Unifesp, 6,4% das moradoras de São Paulo entre 12 e 17 anos apresentam sinais de dependência do álcool.
Nos garotos com a mesma idade, o índice é de 4,9% – com base em uma pesquisa com 4.117 entrevistas.
O reflexo de mais mulheres com o hábito nocivo de beber já impacta no perfil de mortes violentas lembra o sociólogo da Segurança Pública de São Paulo Túlio Kahn. Enquanto no ano de 2000 elas respondiam por 12% dos casos que englobam mortes por assassinatos e também em batidas de veículos, em 2008, o grupo feminino passou para 25%.