Antonella Zugliani
(O Globo, 22/08/2014) Regina Sardenderg, de 60 anos, mora na mesma rua que a mãe. Todos os dias, à tarde, ela caminha um quarteirão para encontrar Odila Ribas Costa, de 88 anos, portadora de Alzheimer. Apesar de Odila ter a ajuda de duas cuidadoras, uma empregada e de eventuais visitas de um médico, sua filha afirma que toma conta “da casa e da vida” da mãe. Ela é apenas um caso que ilustra o novo estudo da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, segundo o qual as mulheres cuidam bem melhor de seus pais idosos do que os homens.
A pesquisa revelou que as filhas parecem dar bastante atenção aos pais na terceira idade, enquanto os filhos contribuem o mínimo possível. Por mês, as mulheres dedicam 12,3 horas para cuidar dos pais idosos, em comparação às 5,6 horas dos filhos, de acordo com o levantamento. Ou seja, o dobro do tempo ou quase sete horas a mais a cada mês.
O estudo revelou uma diferença impressionante de tempo dispensado por homens e mulheres aos pais idosos em comparação com outras formas de trabalho doméstico, como arrumar a casa ou cuidar de uma criança – afirmou a responsável pelo estudo, Angelina Grigoryeva.
Filhos reduzem esforços
Os dados coletados são baseados no Estudo de Saúde e Aposentadoria de 2004 da Universidade de Michigan, uma amostra nacional realizada a cada dois anos com 26 mil americanos acima de 50 anos. O estudo foi replicado no levantamento de 2010 e o resultado foi bem similar, segundo Angelina.
Em famílias compostas por irmãos de ambos os sexos, a pesquisa indicou que os filhos reduzem seus esforços de cuidados com os pais quando têm uma irmã, enquanto as filhas aumentam os seus quando têm um irmão.
Aposentada há cinco anos, Regina realiza junto com o marido Hugo tarefas como fazer as compras para a casa de sua mãe, apesar de ter um irmão.
– Ele mora longe, fica mais difícil vir visitar – conta.
Comentando a pesquisa, Regina diz que a tendência ocorre por uma questão cultural, já que as mulheres são, desde pequenas, induzidas a cuidar dos outros – com as bonecas, por exemplo.
– Tenho uma filha de 25 anos que ainda mora comigo. Acredito, sim, que ela vá cuidar de mim quando eu for mais velhinha – brincou.
Para Marcus von Seehausen, secretário estadual de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, o que acontece em linhas gerais é que cuida do idoso aquele que está mais disponível.
– Assim, vemos muitas filhas, muitas noras, muitas tias, muitas primas indo com os idosos nos bailes da terceira idade que promovemos, por exemplo – diz.
Angelina relata, ainda, que as pessoas que se dispõem a cuidar de seus parentes idosos muitas vezes têm que equilibrar essa responsabilidade com seus empregos, o que potencialmente resulta em sacrifícios de carreira e salários mais baixos. Por isso, a psicóloga e mestre em geriatria e gerontologia Simone Burmeister considera que cuidar dos pais deve ser uma tarefa em que ambos os sexos se envolvam igualmente.
É necessário paciência; então, dividir as funções é extremamente importante para não haver uma sobrecarga. A mulher acaba tendo que cuidar dos filhos, dos netos, dos maridos e de seus pais – pondera.
A psicóloga lembrou que outras pesquisas já apontaram que mulheres estão sofrendo mais de depressão, além de estarem sendo cada vez mais diagnosticadas com problemas cardíacos.