Plinio Zalewski Vargas*
“Devolvam-nos o espaço público, nós queremos reinventá-lo”. Este talvez seja o significado mais próximo da explosão de energias transformadoras que balançam as instituições da velha ordem e levam milhares de pessoas às ruas de todos os continentes. Da Primavera Árabe aos Indignados da Europa, passando pelo Ocupe Wall Street, fica evidente que as mais variadas formas de governo perdem rapidamente a legitimidade, ao mesmo tempo em que ainda não é possível enxergar, sequer prever, que nova arquitetura política será instituída. E este é, por óbvio, o grande desafio.
É uma tarefa espinhosa esboçar um mapa coerente das causas que nos projetaram neste tempo tão interessante: abismo cavado diligentemente entre as sociedades e as instituições nacionais e internacionais que tomam as grandes decisões locais e globais; obsolescência das formas de representação; recuo massivo dos indivíduos para o espaço privado nos países que atingiram alto grau de desenvolvimento e a consequente ocupação dos governos e parlamentos por políticos medíocres e corruptos; emergência das novas tecnologias da informação, sobretudo das redes sociais na internet, acessadas por um público hipercrítico, criativo, inovador e avesso à tradição. Onde começa, onde termina e onde cada peça se encaixa é difícil dizer. Vivemos tempos interessantes e de profundo assombro diário.
“Devolvam-nos o espaço público,nós queremos reinventá-lo”. Não adianta desviar os olhos, meu caro leitor, porque de Porto Alegre, especialmente por seu papel protagonista na reinvenção da democracia, é exigida uma coragem e uma ousadia muito maiores do que de outras cidades.
Porque já não são suficientes o controle social e o exercício permanente de cidadania exercido pela rede de participação democrática. As inovações introduzidas a cada minuto pelas redes sociais e que extravasam da web para os territórios da cidade, através de ações criativas, operam rápidas mudanças na cultura e na forma de agir dos portoalegrenses.
Assim, às assembleias de moradores se somam plataformas colaborativas; junto às reivindicações sociais é exigida uma nova cultura cidadã, que possibilite a travessia do militante a autor social, que pense com a própria cabeça, atue com as próprias pernas e sinta com seu coração, cultivando a confiança e a coesão social à sua volta, condição para tomar qualquer iniciativa que contribua para o desenvolvimento harmonioso da cidade. Em suma, fazer política.
Mas não é só isso. Se há uma expectativa de que Porto Alegre reinvente o espaço público e contribua para a instituição de uma nova arquitetura política, deveríamos, além de ocupar praças, ruas, ocupar, sobretudo, a política – ou seria nos ocupar mais da política? Começar por elaborar um rol de perguntas certeiras, cujas respostas possam orientar nossas ações e ir desenhando uma nova e mais adequada institucionalidade. Um genuíno espaço de co-working, no qual autores do OP, dos Fóruns de Planejamento, dos Conselhos de Políticas Públicas, poa.cc, Estúdio Nômade, poacomovamos, Comitês de Bairro, Empresários, Uampa, Sindicatos,Shot the Shit, internautas, Universidades, portoalegrenses em geral , pensassem e reinventassem juntos o espaço público e suas formas de representação.
“Devolvam-nos o espaço público, nós queremos reinventá-lo”. 2012 é ano eleitoral. Que tal começarmos a elencar as perguntas? Como os candidatos vão financiar suas campanhas? É possível enfrentar o mercado eleitoral com campanhas inovadoras, que abram mão do financiamento empresarial e, sustentadas em idéias e na credibilidade do candidato, obter contribuições de pessoas físicas? Como tornar os parlamentos mais transparentes, com parlamentares dispostos a serem acompanhados por qualquer morador, pessoalmente e através da web? Como fazer para que toda decisão, seja do executivo ou do legislativo, seja precedida não só por uma consulta aberta à população, mas que permita também que idéias e projetos da sociedade possam ser acolhidos e aproveitados? Que nova forma de representação nos parlamentos podemos permitir, além dos partidos?
Ocupe a política. Quantas perguntas mais os leitores são capazes de fazer para ajudar a reinventar e recuperar o espaço público? Vamos lá, se ocupe da política!
* Diretor de Governança da Secretaria Municipal de Coordenação Política e Governança Local.