por Eloá Muniz
A novela é o gênero televisivo com maior sucesso de audiência no Brasil. Teve sua origem no percurso temporal realizado pelo melodrama desde a pantomima, o teatro falado de feira, o folhetim, a radionovela, o cinema e a telenovela.
A telenovela, tal como o melodrama, funciona como uma catarse social que substitui a contestação e a reflexão pela anestesia e fascínio que a televisão provoca através da sedução pela imagem esteticamente composta e ritualizada. Assim, a novela elabora uma nova ordem simbólica e apropria-se do tempo e do espaço do telespectador, criando em sua vida quotidiana um vínculo e uma relação comunicacional com o veículo televisão.
A televisão fascina as pessoas muito mais que as outras formas de comunicação. Ela introduz uma nova linguagem, que inicialmente seduz o telespectador e depois é incorporada por ele. Desta maneira ela influencia e agrega novos hábitos de recepção e percepção da sociedade e da cultura.
O gênero que mais reflete esta absorção e influencia no público é a novela e, neste momento se estabelece uma contradição importante, o melodrama que surge como uma forma de contestação e dramatização do sofrimento popular, torna-se agora um instrumento da classe dominante para divulgar sua ideologia através dos personagens que são apresentados durante o desenvolvimento do discurso narrativo e da identificação estabelecida entre o público.
Enquanto a vida real transcorre de forma regular, repetitiva, quotidiana, a mente da pessoa, ao contrário, trabalha ansiosa por inovações, melhorias, mudanças de vida. Elas vivem permanentemente em conflito entre esses dois mundos.
O prazer de ser o outro e por alguns momentos ter a ilusão do poder. A novela cria a ilusão e possibilita ao telespectador fundir-se com o personagem e experimentar outra identidade. Tal como os jogos de mimicry, a novela não tem compromisso com a verdade, mas com a verossimilhança, o fingir perfeito. O espelho da realidade, a história contada através dos personagens filtrados pela imagem icônica.